quinta-feira, 28 de maio de 2009

Futuro da Internet decidido em Estrasburgo

Futuro da Internet decidido em Estrasburgo
por MARIA JOÃO CAETANO
(DN) Hoje
Parlamento Europeu vota hoje o 'Pacote das Telecomunicações' que inclui, entre muitas outras medidas, a possibilidade de restringir o tráfego na Internet.
Nas últimas semanas os deputados europeus receberam cerca de 200 mails por dia de cidadãos de todos os países pedindo-lhes para não aprovarem as restrições no acesso à Internet, previstas no polémico "Pacote das Telecomunições" que, depois de ontem ter sido discutido, irá ser hoje votado em Estrasburgo.

A campanha foi organizada a partir do site www.blachouteurope.eu. A mensagem chegou à caixa de correio dos portugueses com o apelo: "Não deixe que o Parlamento Europeu lhe feche a Internet. Aja Agora." A pressão foi de tal ordem que, na última semana, surgiram uma série de emendas ao Pacote.

Os internautas têm dois grandes receios. O primeiro tem a ver com as sanções previstas para actos ilegais (vulgo, pirataria). A política dos "três avisos", que Sarkozy se prepara para aprovar em França, não é explicitamente referida neste pacote, mas abre-se a possibilidade de um governo cortar o acesso de uma pessoa à Internet após a "intervenção de um tribunal independente e imparcial".

Isto apesar de se dizer também que qualquer restrição de acesso deverá "ter em conta que o direito ao acesso à Internet é um dos direitos fundamentais na Europa e, por isso, está abrangido pela Convenção dos Direitos, Liberdades e Garantias".

A segunda questão tem a ver com a possibilidade de os operadores modelarem o tráfego. "As pessoas passarão a ter uma espécie de pacotes de Internet parecidos com os da actual televisão. Será publicitada com muitos novos serviços mas estes serão exclusivamente controlados pelo fornecedor de Internet, e com opções de acesso a sites altamente restringidas", denuncia o movimento BlackOut Europe.

Um operador pode cobrar tarifas diferenciadas a alguns sites para os incluir no seu pacote ou então cortar o acesso a determinado serviço ( exemplo: uma empresa que é também detentora de uma rede de telemóveis corta o acesso ao Skype, que é um serviço concorrente) . Ou pode pura e simplesmente exercer censura.

José Esteves, da associação Liberdade na Era Digital, explica ao DN que estas intervenções já existem actualmente. Em casos pontuais. Mas o facto de haver legislação europeia sobre este assunto irá, certamente, apressar e estender o processo. "A Internet cresceu precisamente porque não havia estes condicionalismos", diz. Porque as pessoas não estão dependentes do que lhes "é dado" mas têm liberdade para procurar o que querem.

Como lembra o tal mail de protesto: "Hoje em dia, a Internet é sobre a vida e liberdade. É sobre fazer compras online, reservar bilhetes de cinema, férias, aprendermos coisas novas (...).Mas é também sobre coisas divertidas como namorar, conversar, ouvir música, ver humor, ou mesmo ter uma segunda vida. Ela ajuda-nos a expressarmo-nos, inovarmos, colaborarmos, partilharmos, ajuda-nos a ter novas ideias e a prosperar... tudo sem a ajuda de intermediários."

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